(in Portuguese)
A procura de maior eficiência em processos de tomada de decisão com recurso a informação geográfica nas empresas e na Administração Pública está a suportar uma mudança de paradigma e renovação num sector já maduro e onde a escassez de investimento se fez notar nos últimos anos.
A capacidade de visualizar, interpretar e utilizar dados que revelem relações, padrões e tendências é uma necessidade cada vez mais premente para as empresas e organizações da Administração Pública central e local, pressionadas para tomar as melhores decisões num espaço de tempo cada vez mais curto. A competitividade do mercado assim o determina, tal como o imperativo de responder de forma mais eficiente às necessidades dos clientes, mesmo que estes sejam os cidadãos e empresas de um determinado país ou município.
Esta pressão está a levar a uma mudança nos sistemas e informação geográfica, onde a palavra de ordem passou a ser a “inteligência” e a integração da informação com sistemas corporativos, oferecendo capacidade de visualização e análise espacial, o acesso a partir de diferentes dispositivos e tirando partido de uma arquitectura ágil para partilhar, mapear, visualizar e analisar dados.
«A utilização do SIG tornou-se, nos últimos anos, tão intuitiva que já não é exclusiva de um utilizador especializado, está acessível a qualquer pessoa de uma qualquer organização», afirma Nuno Pereira Leite, director de negócios da ESRI Portugal. «Trata-se de uma mudança de paradigma, que potencia uma análise mais completa, rápida e eficaz, capaz de responder à necessidade de processar enormes quantidades de informação, aumentando a eficiência do processo de tomada de decisão».
A visão da importância estratégica da inteligência geográfica está também na mira da Focus BC, que a encara como «instrumento criador de valor para as organizações, numa vertente de aumento de receitas, numa vertente de optimização dos seus custos, mas também como um importante instrumento para tomar as melhores decisões».
Sandro Batista, managing partner da empresa que iniciou a sua actividade em Portugal em Fevereiro de 2012 e estendeu o negócio a Madrid no ano passado, explica que a oferta combinada de business consulting e location intelligence permitem à Focus BC oferecer aos clientes «a capacidade de aumentarem os seus ganhos e reduzirem os seus gastos, contribuindo assim para aumentar a sua rentabilidade e sustentabilidade», aliando a flexibilidade das plataformas Google Maps Enterprise aos instrumentos de SIG já existentes nas organizações.
O desenvolvimento de soluções verticais, muitas vezes em modelo “chave na mão” é outros dos vectores de desenvolvimento do sector e está a ser explorado pela SmartGeo, uma startup criada por quadros da Novabase e que recebeu investimento da Novabase Capital. «Desde a sua génese a SmartGeo tem-se dedicado sempre a áreas de soluções verticais, sendo as telecoms a nossa principal área de actuação», explicou ao Semana Pedro Reino, chief technical officer da empresa.
«O desenvolvimento de soluções verticais é, seguramente, um dos caminhos a seguir, no sentido de responder a necessidades específicas de todo o tipo de organizações que, cada vez mais, exigem respostas rápidas, direccionadas e eficazes», admite Nuno Pereira Leite. A Esri está a fazer este percurso, desenvolvendo soluções que auxiliem as organizações nos seus fluxos de trabalho e processos de tomada de decisão, e um exemplo disso é a disponibilização através da plataforma ArcGIS de recursos (mapas, dados, aplicações e outros conteúdos geográficos) prontos a utilizar, numa perspectiva de dotar os utilizadores de maior autonomia. Adicionalmente a empresa disponibiliza APIs e SDKs que permitem o desenvolvimento de soluções verticais à medida.
O caminho passa pela cloud
Num mercado relativamente maduro, onde os sistemas de informação geográfica já traçaram um caminho de desenvolvimento na administração pública em termos de criação de cadastros de informação georreferenciada, este alargamentos de âmbito é relevante para a renovação do sector, trazendo mais valias à gestão da informação e melhoria de serviços públicos e privados, tirando também partido da evolução tecnológica aportada pela cloud e a mobilidade.
A procura de decisões mais rápidas e da redução da dependência em relação a vendors, com autonomia e capacidade de resposta face às constantes mudanças nos requisitos de negócio, são os grande impulsionadores de modelos de software-as-a-service e cloud também nos sistemas de informação geográfica.
A Esri tem já a plataforma ArcGIS em ambiente cloud e o modelo de SaaS funciona de forma complementar, sendo materializado em aplicações que permitem às organizações processarem os grandes volumes de informação sem terem que fazer à cabeça um avultado investimento. «Este princípio está na base do sucesso da cloud. Esta elasticidade torna possível executar, de forma acessível e eficiente, processamentos de grande escala, sem as limitações da infra-estrutura on-premise», explica Nuno Pereira Leite.
Pedro Reino, da Smartgeo, partilha a visão da importância da cloud e do big data na evolução do SIG. «Para conseguirmos ter uma decisão geográfica tão rápida como as decisões alfanuméricas é essencial garantir a convergência entre o SIG e a cloud, reduzindo o tempo de resposta da informação, aproximando-nos da decisão em tempo real e adaptando-a, automaticamente, ao nível de serviço. Caso contrário teremos uma resposta analítica célere em confronto com uma resposta espacial que a não conseguirá acompanhar», defende.
A mobilidade assume-se, como não podia deixar de ser, como outro dos vectores de maior relevância. «Como está em voga dizer, o futuro é móvel, e o GIS está na primeira linha, disponibilizando formas de nos localizarmos ou de localizarmos o que procuramos. Com cada vez mais pessoas a utilizarem os telemóveis em todas as ocasiões e locais (incluindo o banho), a localização dos dispositivos móveis é de facto a localização exacta dos indivíduos, informação que é extremamente apetecível para o marketing contextual», lembra o CTO da SmartGeo.
A utilização da localização ao serviço da Internet das coisas e de uma rede de sensores revelam-se igualmente parte de um futuro cada vez mais próximo, onde os SIG terão um papel relevante. «A monitorização de tudo o que acontece sobre o nosso planeta irá criar uma nova dimensão de conhecimento e capacidade para tomar as melhores decisões sobre a sustentabilidade no nosso planeta», afirma Sandro Batista.
Crescimento pela internacionalização
A procura de mercados internacionais é já uma realidade com alguns anos para algumas empresas portuguesas de SIG e tem vindo a ser intensificada face à faca dinâmica interna. A experiência em projectos de sucesso desenvolvidos em organizações portuguesas serve de ponte para replicar iniciativas noutros países, nomeadamente em organizações de países de língua oficial portuguesa onde as necessidades de sistemas de informação geográfica são semelhantes.
A Gismédia tem feito este caminho e a inovação desenvolvida na área de prevenção e gestão de calamidades tem sido uma das pontas de lança de internacionalização, nomeadamente em Moçambique, como refere CarlosPereira, director de marketing e vendas da empresa.
Na EsriPortugal o território de distribuição inclui também outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, o que torna natural o processo de internacionalização do negócio. Mas a empresa tem vindo a reforçar esta aposta para responder às necessidades de crescimento. «A nossa internacionalização tem vindo a ser intensificada, fruto de um processo de definição de prioridades estratégicas, que visa potenciar os recursos existentes, para um desenvolvimento sustentável de oportunidades no mercado, sempre em busca de uma maior competitividade e crescimento», explica Nuno Pereira Leite, director de negócios.
Para a PH Informática, que desenvolve soluções SIG municipais, a internacionalização é uma estratégia que representa potencial de maior crescimento. Sandra Silva, directora comercial da área, admite que em 2014, com a concretização de algumas oportunidades em curso, especificamente nos PALOP, o negócio internacional terá um peso considerável.
A pensar desde o primeiro dia no mercado global, a Smartgeo, um dos players mais recentes do sector que nasceu a partir da Novabase, tem também uma aposta clara na internacionalização. Embora com pouco mais de um ano de existência, a startup que se focou na criação de soluções chave na mão para as grandes empresas já deu «os primeiros passos para criarmos os alicerces que possam cimentar a nossa presença nos mercados internacionais», explica Pedro Reino, chief technical officer, embora ainda sem expressão significativa. Mas para 2014, na sequência de projectos e mercados que já identificaram a perspectiva é de que «possa ter um peso de 40 a 50% no negócio».
Embora não seja encarado de forma tão transversal por todas as empresas contactadas pelo Semana Informática, o outsourcing é visto também como uma área de negócio em crescimento. É o caso da Gismédia que está a implementar esta linha de negócio há pouco tempo mas que regista já «um rápido crescimento, em parte verificado também pela implementação de soluções SIG que se tornaram casos de sucesso», justifica Carlos Pereira, adiantando que os consultores e competências em SIG da empresa têm vindo a ser solicitados pelos clientes para participação em projectos internacionais que requerem elevada especialização SIG. Em 2013 o peso do outsourcing no negócio da empresa já foi de 34% e a expectativa é que em 2014 duplique.